Postado em 23/08/2025
Vevila Dornelles
Tempo de leitura: 5 min
A doebem nasceu da visão de que cada centavo investido em ações para uma causa importante, negligenciada e tratável pode retornar o maior impacto social – o segredo é descobrir que ações têm mais potencial para isso. Orientada por evidências científicas, a doação eficaz maximiza o impacto da sociedade civil organizada ao investir em iniciativas com impacto comprovado e custo acessível, condição fundamental para a adoção e manutenção destas ações em países de baixa e média renda, como o Brasil. Neste artigo, compartilho as principais lições aprendidas pela equipe da doebem em nossos mergulhos nas grandes causas que estudamos de 2023 até aqui.
O trabalho da doebem é o de encontrar organizações eficazes que implementam, com responsabilidade e eficiência, soluções comprovadamente eficazes pelo menor custo possível. Decidimos organizar nossa busca por organizações eficazes a partir de causas centrais na macroárea da Pobreza e Desenvolvimento, que molda todo o nosso processo de pesquisa, avaliação e recomendação — desde a identificação do problema até a análise de custo-efetividade das intervenções.
No entanto, chegar até as melhores recomendações passa, necessariamente, pela comparação entre intervenções que podem ser muito diferentes entre si. A priorização de causas é uma estratégia metodológica que busca superar este desafio. Buscamos a ajuda de especialistas para ranquear, por nível de importância, negligência e tratabilidade, 59 causas em 7 áreas. O resultado deste exercício foi nosso Estudo de Priorização (disponível em: https://www.doebem.org.br/priorizacao-de-causas), que colocou no topo três causas essenciais: Insegurança Alimentar, Insegurança Hídrica e Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNTs).
A cada causa estudada, as estatísticas revelavam os danos causados por estes problemas à população brasileira e seu potencial de desenvolvimento socioeconômico — verdadeiras causas urgentes no Brasil. As lacunas e limitações do Estado na abordagem a estes problemas nos mostram, também, espaços onde a sociedade civil pode incidir para sua mitigação. Por fim, a ciência nos mostrou caminhos para a sociedade contribuir com a solução desses obstáculos a partir das comunidades afetadas.
Ao lado do estudo de priorização, os estudos aprofundados de cada causa ampliaram nossa perspectiva sobre o terceiro setor e sua ação para mitigação da pobreza no Brasil. Compreendemos que estas causas não existem isoladamente; elas são interligadas a partir de suas raízes, perpetuam-se nos pontos cegos das políticas públicas e retroalimentam a pobreza, prendendo populações inteiras em um ciclo de indignidade.
A insegurança hídrica afeta a saúde, segurança alimentar, educação e desenvolvimento econômico das comunidades. As DCNTs são frequentemente chamadas de “doenças da pobreza” devido à sua desproporcionalidade entre as populações mais pobres e à sua ligação com fatores de risco exacerbados pela condição de pobreza – entre eles, a insegurança alimentar. Tudo isso reforça a importância de buscar intervenções eficazes que abordem aspectos tratáveis de problemas sistêmicos, sem ignorar sua complexidade.
Nossa busca por organizações eficazes frequentemente esbarra na desigualdade regional e territorial que persiste no Brasil. Enquanto as populações mais afetadas pelos problemas priorizados se encontram nas regiões Norte e Nordeste do país, a maioria das OSCs está sediada e atuando na região Sudeste, o que amplia as lacunas regionais mostradas pelas estatísticas.
Por outro lado, organizações de base comunitária, que atuam a partir das comunidades onde nasceram, implementam ações e tecnologias sociais geradas e alinhadas a seus contextos socioeconômicos e culturais. Acreditamos que estas organizações devem ser fortalecidas, especialmente aquelas com potencial para alto impacto e custo-efetividade, como as que avaliamos em nosso portfólio.
Nossas análises de custo-efetividade, cruciais para que uma solução seja recomendada pela doebem, estão alinhadas ao padrão de organizações de filantropia efetiva ao redor do mundo, incluindo fundos eficazes internacionais, como o GiveWell.
A mensuração do impacto em DALYs (Anos de Vida Ajustados por Incapacidade) permite a comparação entre intervenções diversas, consolidando os efeitos de morbidade e mortalidade em uma única métrica. Isso nos ajuda a identificar diferenças consideráveis de magnitude entre as oportunidades de doação, mais do que estimativas exatas.
Além disso, métricas como o DALY nos permitem comparar as intervenções avaliadas com os limiares propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), reforçando nossa confiança na custo-efetividade de nossas recomendações.
Ainda há desafios quanto à disponibilidade de estudos de impacto centrados na realidade brasileira, mas uma extrapolação controlada pode suprir essa necessidade enquanto não avançamos no desenvolvimento dessas pesquisas.
Embora o Estado seja o principal responsável por políticas universalizantes, a sociedade civil preenche lacunas e atua de forma inovadora e adaptada aos contextos locais. Iniciativas avaliadas por nós, como os filtros portáteis de micromembrana distribuídos pelo PSA e endossados pelo Ministério da Saúde, demonstram essa necessidade de articulação para superar os desafios persistentes.
Leia mais sobre esta intervenção em: https://www.doebem.org.br/inseguranca-hidrica.
O principal compromisso da doebem é com a filantropia estratégica, por meio da doação efetiva, baseada em impacto mensurável e análises rigorosas. Compreendemos que o impacto social é mensurável, e a doação efetiva tem o poder de transformar vidas nas comunidades mais vulneráveis do Brasil.
Se você se interessa por este trabalho e quer gerar o maior impacto possível com seu dinheiro, nós direcionamos sua doação às organizações mais eficazes. Faça uma doação em: https://www.doebem.org.br/checkout.